terça-feira, 31 de maio de 2011

Ciclo de Debates Pró-CNPq discute Memória Institucional


Como preparar os próximos anos com uma gestão compartilhada da informação entre parceiros é o objetivo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) ao introduzir um ciclo de debates pró-CNPq em 2011. O primeiro evento, ocorrido na quinta-feira passada (05/05), no auditório do novo prédio do conselho, em Brasília, abordou o tema “Memória Institucional”, do qual participou o diretor do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), Emir Suaiden, na condição de um terceiro olhar sobre a questão. O evento foi aberto pelo presidente do CNPq, doutor Glaucius Oliva.
O debate seguiu um modelo acadêmico, cuja dinâmica girou em torno de um ponto, apresentado pela coordenação da equipe responsável pelo tema; contraponto, apresentado pelas representações dos servidores; e do terceiro olhar, apresentado por um convidado especialista externo, além de um moderador e do presidente da mesa.
Ao abrir o debate, Glaucius Oliva disse que o CNPq tem identificado grandes desafios para a ciência do futuro e a ciência que é feita no país. O presidente do CNPq ressaltou que o Conselho teve um crescimento extraordinário ao longo dos seus 60 anos, mas que o desafio daqui para a frente é maior. “Antes, crescer significava publicar mais, formar mais mestres e doutores e espalhá-los pelo país. Agora nós precisamos nos preocupar com outras coisas. Vamos fazer pesquisas de mais qualidade, profundidade e aproximação com os desafios do conhecimento humano, e não aquela pesquisa continuada dentro dos temas que estamos acostumados a estudar e a publicar. Esse é o desafio. A fronteira do conhecimento de qualidade e impacto requer ajustes no nosso sistema de gestão, acompanhamento e avaliação e priorização. Por outro lado, temos outro desafio, que é o de inovar. Por exemplo, pegar o conhecimento e aplicar; ou ainda melhor, antes de gerar conhecimento, identificar os problemas que nós precisamos resolver no país em uma dada forma de gestão”, enfatizou.
Emir Suaiden, ao apresentar o seu ponto de vista, ou olhar externo, afirmou que a perda de memória significa aumento da dependência científica e tecnológica do país. Ele exemplificou sua fala dizendo que, na época do governo Collor, que acabou com diversas instituições, a memória de várias organizações teve como destino o lixo. “O Instituto Nacional do Livro tinha, no período, cartas de Monteiro Lobato e, hoje, ninguém sabe onde elas estão. Isso é a memória perdida do país”, disse, lembrando que a falta de memória levanta a perspectiva que o custo Brasil aumenta mais.
Outra questão abordada por Emir Suaiden foi o papel das bibliotecas na sociedade brasileira. Segundo ele, ainda hoje, as bibliotecas estão localizadas no subsolo dos prédios. “Ou seja, é esse o significado da informação?”, questionou Suaiden. Ele afirmou que os anglo-saxões têm uma memória ativa, permanente e lúcida, pois valorizam a indústria editorial, e que as bibliotecas são sinônimo de qualidade, além de que os usuários leem e o público leitor é muito forte. “Tudo isso aguça a memória e constrói o processo de desenvolvimento. Quanto aos latinos, nós ainda temos problemas. A revolução tecnológica nos mostrou que a produção de riqueza vem pela informação, e nossa infraestrutura informacional ainda é muito decadente. Durante muitos anos no Brasil, os pesquisadores de história e arquivologia preferiram ir à Library of Congress de Washington, pois lá encontrariam muito mais documentos, do que na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Também até hoje a British Library, no seu centro de estudos latinos, tem muito mais documentos que o Paraguai, Uruguai e Argentina”, salientou.
O aluno de doutorado do departamento de Ciência da Informação da Universidade de Brasília (UnB), Valério Brusamolin, contou sobre sua experiência com o registro das narrativas feitas no IBICT e o impacto delas na cultura organizacional. Valério entrevistou gerentes de projetos, assim como ministrou oficinas e treinamentos com gestores. “Se a informação não for comunicada e compartilhada, ela é estéril. Ela só surte efeito se for comunicada. Implantando a memória e narrativas como instrumento de gestão, a informação sai de um papel passivo para um papel ativo”, considerou.
Ao encerramento, o professor Emir Suaiden falou da iniciativa do CNPq, afirmando que um dos principais requisitos para se resgatar efetivamente a memória institucional é o diálogo aberto. “Nesse sentido, considero perfeito o método adotado pelo CNPq.”, elogiou.
Participaram das discussões da mesa: Ricardo Guanabara Leal, representante dos servidores no Conselho Deliberativo do CNPq, como moderador; Roberto Muniz Barreto de Carvalho, chefe do serviço de Documentação e Acervo Sedoc/CNPq; Jovan Guimarães Gadioli dos Santos, chefe de gabinete da presidência do CNPq; Wayne Brod Beskow, integrante do grupo de aprendizagem pró-debate; e Luis Miguel de Oliveira, integrante do grupo de aprendizagem pró-debate.


FONTE: IBICT

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