terça-feira, 13 de setembro de 2011

Renda maior aumenta gastos com beleza e faz de salão o negócio da vez


Depois de 25 anos trabalhando como funcionária, a manicure Sandra Ribeiro decidiu abrir o seu próprio salão. Juntou as economias que tinha, fez um empréstimo no banco e com a ajuda dos filhos reuniu cerca de R$ 30 mil para mobiliar um imóvel alugado com cadeiras, sofás, espelhos e instrumentos básicos. O local escolhido foi uma garagem no bairro de Perdizes, Zona Oeste de São Paulo, numa rua onde existem outros cinco salões a menos de 100 metros de distância. Mas, segundo ela, o movimento das primeiras semanas do negócio tem mostrado que clientela é o que não falta.
“Tem muito salão, mas também tem muito prédio e muita mulher dentro de cada prédio”, diz a empreendedora, que agora virou patroa de duas funcionárias e já chega a atender 15 clientes por dia. “Os primeiros dias foram difíceis. No primeiro, atendi um único cliente. No segundo, foram dois, e depois foi aumentando. Estou tendo que conquistar uma nova clientela. Mas está melhor do que imaginei e acho que foi a melhor coisa que eu fiz”, completa.
Como Sandra, muitos outros empreendedores têm apostado alto na vaidade do brasileiro, e ajudado a impulsionar o crescimento do setor de serviços do país, que se destaca no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Dados da Junta Comercial mostram que na cidade de São Paulo o número de registros em cartório de novos estabelecimentos ligados ao setor de beleza já supera, por exemplo, o de lanchonetes e estabelecimentos similares como casas de chá e de sucos.
Entre janeiro e julho deste ano, foram abertas em São Paulo 2.445 empresas de serviços relacionados à beleza, uma alta de 85% em relação ao número de registros no mesmo período do ano passado (1.317). Já o número de abertura de lanchonetes e similares subiu de 1.705 em 2010 para 1.989 em 2011 (alta de 12,5%). Segundo os dados da Junta, existem em atividade na cidade 10.123 estabelecimentos ligados à beleza e 40.552 lanchonetes.
No país, o número de salões de beleza cresceu 78% em cinco anos, de 309 mil, em 2005, para 550 mil, em 2010, segundo levantamento da Associação Nacional do Comércio de Artigos de Higiene Pessoal e Beleza (Anabel).
Parte do crescimento se deve ao incentivo à formalização pelo programa federal que criou a figura jurídica do Empreendedor Individual para negócios com receita bruta anual de até R$ 36 mil. Com burocracia reduzida e menores alíquotas, o programa tem facilitado a legalização e o registro no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), o que faz com que muitos desses pequenos estabelecimentos passem tanto a emitir nota fiscal como a ter acesso a financiamentos, além de garantir a cobertura da Previdência Social.
Segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o número de empreendedores individuais formalizados já soma 1,5 milhão no país. Desse total, os cabeleireiros ocupam o 2º lugar na lista das principais ocupações, com 7,6% do total de registros - percentual inferior apenas ao de empreendedores ligados ao comércio de vestuário e acessórios (10,5%). Somados todos os cabeleireiros que aderiram ao programa e os profissionais de atividades de estética e beleza, o número passa de 146 mil empreendedores, correspondendo a quase 10% de todos os registros.
Para a coordenadora de projetos de serviços do Sebrae, Karen Sitta, o baixo custo de investimento para abrir um salão e o rápido retorno podem ajudar a explicar porque há tantos negócios do gênero. “É moda, mas é um mercado que tem tido muita procura e um crescimento fantástico. E como o custo é relativamente baixo, é natural que seja o caminho e a oportunidade que muitos encontram para abrirem seu próprio negócio”, diz.
Ela chama a atenção, no entanto, para a necessidade de buscar a profissionalização e a capacitação da mão de obra para não correr o risco fechar as portas. “Os empreendedores precisam entender o salão como negócio. Não basta só abrir o ponto”, diz. Karen lembra que é preciso lidar com uma série de regulamentações e normas técnicas de higiene e saúde e, sobretudo, saber gerenciar a equipe. “Como a rotatividade no setor é alta, investir na qualificação técnica e na retenção de talentos passou é estratégico”, avalia.
Classe C lidera alta de gasto com beleza
O aumento dos gastos dos brasileiros com beleza talvez seja a principal razão para o aumento do número de salões. Pesquisa do Instituto Data Popular mostra que as despesas com higiene e cuidados pessoais saltaram 388% em oito anos, de R$ 8,9 bilhões em 2002 para R$ 43,4 bilhões em 2010. Segundo o levantamento, a classe C (famílias que ganham entre três e 10 salários mínimos) liderou a alta, respondendo por 45,64% dos gastos (Veja quadro ao lado).
Estudo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio) mostra que os gastos dos brasileiros com serviços de cabeleireiros cresceram 44% em seis anos, movimentando por mês mais de R$ 1 bilhão, praticamente o mesmo valor consumido pelas famílias com frango.
Dados do Euromonitor de 2010 mostram que o país é o terceiro maior mercado de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e do Japão. Na venda de desodorante, produtos infantis e perfumaria o Brasil já é o maior mercado mundial.
Segundo a Indústria Brasileira de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), as 1.659 empresas que atuam no mercado faturaram em 2010 R$ 27,3 bilhões, uma alta de 11,8% em relação a 2009.
Mudanças de hábito
Para Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular, a elevação dos gastos com beleza está diretamente ligada ao aumento do poder aquisitivo das classes mais baixas e, principalmente, à maior presença da mulher no mercado de trabalho. “Ao sair do bairro para trabalhar, a mulher passa a investir mais nela mesma e tem uma desculpa racional para gastar mais com vaidade”, afirma.

Copa vai ajudar micro e pequenas empresas a movimentar bilhões


Uma pesquisa que acaba de ser concluída mostrou que, só no estado de São Paulo, a Copa deve beneficiar 300 mil micro e pequenas empresas de mais de 400 tipos de negócios. Na Zona Leste de São Paulo, onde está sendo construído o estádio que pode sediar a abertura da Copa, já tem gente se preparando para receber os visitantes.
Ainda é um sonho que, a cada estaca e cada coluna fincada, vai se concretizando. A 20 quilômetros do Centro de São Paulo, o futuro estádio do Corinthians virou um pólo de atração de investimentos. Afinal, em menos de três anos, o canteiro de obras vai dar lugar a um dos palcos mais importantes da Copa.
Antes da chegada dos atletas e dos turistas, a bola rola no mundo dos negócios. Um estudo do Sebrae diz que, com a Copa, micro e pequenas empresas podem movimentar R$ 10 bilhões só no estado de São Paulo. É uma oportunidade de desenvolvimento de regiões mais pobres, como a Zona Leste da cidade.
O leque de possibilidades é imenso. Mais de 400 tipos de negócios vão lucrar com a festa do futebol, desde empresas de construção civil e turismo a outras menos convencionais, que alugam geradores de energia, promovem shows pirotécnicos ou simplesmente fabricam gelo.
“O principal é o empresário perceber que a Copa do Mundo já começou. Não é um evento que só vai acontecer em 2014. Quem quiser aproveitar as oportunidades para a Copa tem de se preparar desde já. Preparar-se significa estudar seu ramo de negócio e estudar as oportunidades desde já. A Copa do Mundo já começou”, afirma Bruno Caetano, superintendente do Sebrae em São Paulo.
A escola de idiomas a quatro quilômetros do futuro estádio já sente a força do evento. No último ano, o número de alunos cresceu 70%. “Profissionais como policiais, bombeiros, mecânicos, vendedores ambulantes e vendedor de loja convencional já pensando no retorno de atendimento a turistas estrangeiros que vêm na época da Copa do Mundo”, diz Leandro Fabrício, gerente comercial da escola.
“É para mostrar a região da Zona Leste de São Paulo. O bairro eu domino, só precisa agora dominar a língua”, comentou Wellington de Souza Santos, de 16 anos.
A oficina mecânica ao lado vai bancar aulas de inglês para quatro funcionários, entre eles a auxiliar administrativo Rosimeire Oliveira, que conhece poucas palavras da língua. “Se chegar um gringo, estaremos aqui para ajudar”, diz.
Em cursos de capacitação e na reforma da fachada, o dono da oficina espera investir R$ 30 mil para garantir um atendimento diferenciado na Copa, que vai incluir telefone para emergências.
“Vamos desenvolver a ideia do ‘0800’ nos pontos estratégicos, nos hotéis, nos estacionamentos e nos postos de gasolina. O volume aumenta e aumenta a necessidade de reparação”, afirma o dono da oficina Juvenal Fernando da Silva.
Uma coisa não vai mudar nem na Copa: "Fiado, só quando a galinha criar dente”, brinca um cartaz. Segundo o estudo do Sebrae e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Copa deve injetar R$ 142 bilhões na economia de todo o Brasil.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Negociar renovação do aluguel é arma para fugir da alta dos preços

A alta dos aluguéis no Rio chegou ao ápice no ano passado, mas seus reflexos podem ser sentidos até hoje. Para os que estão prestes a ver seu contrato de locação chegar ao fim, só resta uma coisa a fazer: negociar muito!
A subida dos preços foi democrática. De acordo com uma pesquisa do Sindicato da Habitação do Rio (Secovi Rio), em 2010, 22 dos 24 bairros monitorados apresentou alta no valores de locação. O campeão foi Botafogo, com alta de 103% nos imóveis residenciais de três quartos.
Não é preciso andar muito pela cidade para ouvir histórias de pessoas que tiveram que se mudar ou dar um jeitinho para arcar com o novo valor. A contadora Daniela Gama, de 30 anos, foi uma delas. O aluguel de seu conjugado, no Flamengo, custava R$ 600. Num piscar de olhos, houve um aumento de 33%:
— Agora, estou pagando R$ 800. E olha que poderia ter sido pior, se não fosse amiga da proprietária. No meu prédio já estão cobrando mil reais.
Os imóveis comerciais também estão no bolo. Nos seis primeiros meses do ano, os campeões de valorização foram a Tijuca, com aumento de 51,1%, e o Centro, com alta de 30,5%. Nesse caso, a situação fica um pouco mais difícil, pois mudar uma empresa de lugar gera custos com os quais os donos, muitas vezes, não podem arcar.
— Alugamos um imóvel comercial na Taquara e pagávamos quase R$ 2.200. Quando venceu o contrato, o dono alegou que o valor estava defasado em relação à região e pediu R$ 5 mil. Conseguimos negociar por R$ 4 mil, por sermos bons inquilinos — diz Genaro Gomes, representante da empresa.
De acordo com o vice-presidente do Secovi Rio, Manoel Maia, após o contrato, o proprietário pode pedir o aumento que desejar, e a única saída para o inquilino é mostrar que é um bom pagador e preserva bem o imóvel.
A justificativa para a alta? O diretor de locação da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), Carlos Samuel de Oliveira Freitas, e Edison Parente, diretor da Renascença Administradora, fazem coro: a escassez de imóveis no mercado. Mas, segundo Freitas, resta uma esperança:
— Somente até o fim deste ano entrarão no mercado cerca de 50 mil imóveis. Como a locação também é regida pela oferta e pela procura, espera-se que, em janeiro de 2012, os preços se estabilizem, pois quem comprou uma dessas unidades vai liberar um imóvel.
Inquilino
É mais fácil barganhar o aumento quando o aluguel ainda não venceu. Portanto, antecipe-se sempre que possível. Assim, o inquilino mostra ao proprietário boa vontade e estreita o vínculo com o mesmo. Na hora de negociar, use como pontos a seu favor o cuidado com o imóvel e o cumprimento de prazos e pagamentos da mensalidade.
Proprietário
Antes de propor o aumento do aluguel, faça uma pesquisa de preços dos imóveis similares da região. Tentar subir o valor além do que o mercado comporta pode gerar confusões com um bom inquilino e fazer com que o bem fique sem interessados. Apesar da pouca oferta de residenciais e comerciais, é difícil encontrar quem aceite pagar valores descabidos.
Sem acordo
Caso as negociações sobre o novo valor fracassem e o contrato tiver chegado ao fim, o proprietário pode entrar com ação de denúncia vazia, pedindo a desocupação do bem em até 30 dias. Já se o contrato for por tempo indeterminado, a medida deve ser a mesma, mas o prazo para desocupação subirá para até 90 dias.