quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Crianças sobredotadas precisam de ser bem acompanhadas e motivadas



A Universidade Fernando Pessoa (UFP) promove amanhã o primeiro seminário ibérico sobre sobredotação. O encontro que terá lugar a partir das 9h30, no Porto, tem por objectivo divulgar uma temática pouco conhecida junto da população e ajudar a melhorar a capacidade de resposta das famílias e agentes educativos face às necessidades das crianças sobredotadas. Ciência Hoje falou com Ana Costa, coordenadora da comissão organizadora do evento, sobre a área pouco estudada em Portugal e sobre os mitos que continuam associados às crianças que desde cedo, e mesmo sem querer, se começam a destacar das outras.
Ciência Hoje - Porquê só agora um seminário ibérico sobre sobredotação?

Ana Costa
- Tem havido alguns encontros e alguns eventos, sobretudo desenvolvidos pela ANEIS. Neste momento na UFP estamos a fazer este seminário porque tivemos este ano, pela primeira vez, uma unidade curricular que se chama psicologia da sobredotação e do talento. É uma unidade curricular do 2º ciclo de Bolonha em Portugal.

CH - Esta área da sobredotação é negligenciada?


A.C.
- Eu diria que é ainda uma área recente. Não lhe quero chamar negligenciada porque parece que é maltratada, e não é o caso. É uma área pouco desenvolvida, não só em Portugal mas em quase toda a Europa. Apesar de neste momento já haver várias universidades a trabalhar nela e organizações internacionais como a ECCHA, em que já há vários investigadores portugueses a contribuir.

CH - Quais são os objectivos para este encontro?


A.C.
- Acima de tudo queremos lançar o tema e acabar com alguns mitos relacionados com sobredotação. Queremos que este tema comece a ter visibilidade, para as crianças sobredotadas possam ser avaliadas o mais precocemente possível, ser bem acompanhadas e bem estimuladas. Isto são coisas que não acontecem actualmente.

CH - Que mitos existem associados às crianças sobredotadas?


A.C
. - Há a ideia de que elas se desenvolvem sozinhas, de que não precisam de ajudas, que aprendem tudo sozinhas. Não é verdade. Estas crianças precisam de orientação, estimulação e motivação. Aprendem mais rapidamente do que a maioria das pessoas mas precisam de ajuda para o fazer.

CH - E devem ser separadas dos colegas?


A.C.
- Eu acho que não. Há algumas posições que, em algumas áreas, sugerem que elas devem ser separadas. Eu acho que não, devem continuar na escola dita normal. Poderão ter então a possibilidade de aceleramento, que é passar dois ou três anos à frente, ou, se forem talentosos terem currículos enriquecidos com actividades extra-curriculares, que os levem a aprender cada vez mais.

CH - Sabe-se quantos casos de crianças sobredotadas existem em Portugal?


A.C.
- Não. Neste momento, estou a desenvolver com uma equipa de Santiago de Compostela testes para avaliar os talentos verbais e matemáticos. Fez-se um inquérito internacional e estes são dois dos talentos mais incidentes. Estamos numa fase muito experimental mas não temos encontrado muitos casos de crianças sobredotadas. Se consideramos a realidade internacional, entre 2 e 5 por cento da população escolar tem os parâmetros para ser considerada sobredotada.

CH - Quais são os parâmetros
?

A.C.
- São imensos. Não é só o QI. Cada vez mais há uma tendência para considerar competências em diversas áreas, por exemplo, nas áreas verbais, na matemática, ao nível da liderança ou da capacidade tecnológica.

CH - Que sinais podem chamar a atenção dos pais?


A.C.
- No desenvolvimento da primeira infância, por exemplo, falamos de crianças que começam a falar muito cedo ou a colocar questões que são mais abrangentes, menos concretas do que põem as crianças destas idades. Algumas destas crianças podem aprender a ler antes da entrada na escola. Depois, já no 1º ciclo, há sinais como ter muita avidez e interesse em aprender, estar sempre a perguntar porquê, ir pesquisar voluntariamente. Obviamente que tem de haver um contexto favorável, se o contexto for limitativo estes sinais não se manifestam.

CH - E qual deve ser a atitude dos pais?


A.C.
- Tentar responder o máximo às solicitações das crianças, quando são capazes de o fazer. Quando não são devem procurar ajuda junto do educador de infância ou do professor. Nunca se deve deixar a criança sem resposta.

CH – A quem se destina este seminário?


A.C
. – Aos pais, vamos até ter a presença do psicólogo Francisco Reyes Cora que trabalha numa escola de pais de alunos sobredotados, aos estudantes, aos agentes educativos e aos futuros psicólogos. 
 
 
 

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